Seja ambidestro na gestão da sua carreira
A importância de o profissional cuidar de suas responsabilidades de curto prazo enquanto busca ativamente oportunidades para seu desenvolvimento futuro
Por Rafael Souto – Jornal Valor Econômico
10/10/2024
O conceito de ambidestria, introduzido por Charles A. O’Reilly III e Michael L. Tushman em 2004, destaca a capacidade das organizações de inovar sem negligenciar as eficiências operacionais existentes. Esta abordagem responde à obsessão do início do século pela inovação, enfatizando a necessidade de equilíbrio entre as operações correntes e a busca por novas oportunidades.
No dinâmico mundo do trabalho atual, é crucial adaptar o conceito de ambidestria para as carreiras individuais. Ser ambidestro na carreira significa cuidar das responsabilidades de curto prazo enquanto se busca ativamente oportunidades para o desenvolvimento futuro. Isso envolve um equilíbrio entre manter a relevância na carreira atual e inovar para se manter competitivo ao longo do tempo, o que requer uma análise cuidadosa dos cenários futuros.
O Fórum Econômico de Davos frequentemente identifica habilidades críticas para o futuro através de suas pesquisas globais, como a “future literacy” – uma habilidade que exige dos profissionais a capacidade de prever e preparar-se para futuras demandas de carreira, avaliando tendências de mercado e áreas de interesse pessoal.
Ambidestria na carreira é, portanto, a arte de balancear as demandas do trabalho atual com o planejamento estratégico para futuros avanços profissionais. Isso envolve tanto habilidades técnicas (hard skills) quanto competências comportamentais (soft skills).
Ser um profissional ambidestro implica em cultivar uma cultura de aprendizado contínuo — Foto: Pexels
Adotar uma postura ambidestra também significa incorporar ao desenvolvimento de carreira estratégias que abordem tanto necessidades de curto prazo quanto preparações para oportunidades futuras. Um aspecto prático disso é identificar e explorar “gaps de oportunidade” na própria área de atuação, mantendo-se atualizado com as novidades e tendências relevantes. Para exemplificar esse “gap de oportunidade” cito o professor Itai Green, da Universidade de Tel Aviv: “não será a inteligência artificial que roubará seu emprego, mas sim aquele que souber trabalhar com inteligência artificial”.
Um dos pilares essenciais para a ambidestria na carreira é o networking. Cultivar uma rede consistente é uma valiosa fonte de informações para o desenvolvimento da carreira. A partir de uma rede sólida, podemos ter acesso a informações sobre tendências de mercado, buscar mentores e construir cenários sobre o futuro.
Além disso, o conceito de “trabalhabilidade” está intrinsecamente ligado à ambidestria na carreira. “Trabalhabilidade” refere-se à capacidade de um profissional gerar renda além do emprego tradicional, explorando fontes alternativas de receita e utilizando seu ativo intelectual de maneiras diversas. Embora possa não ser uma meta de curto prazo, é fundamental planejar e preparar-se para possíveis transições futuras.
Ser um profissional ambidestro também implica em cultivar uma cultura de aprendizado contínuo. Isso envolve manter a curiosidade como um hábito, reconhecer vulnerabilidades e identificar oportunidades de melhoria, com a capacidade de aprender, desaprender e reaprender conforme necessário.
Em um mundo de mudanças rápidas e constantes, adotar uma mentalidade de crescimento é essencial. E para as lideranças, além de desenvolver pensamento ambidestro em suas próprias carreiras, é vital incentivar nos times uma cultura de inovação e proatividade. Isso pode ser alcançado através da concessão de autonomia, criação de experiências de aprendizado e, principalmente, pelo exemplo, encorajando colaboradores a pensar e agir de maneira ambidestra.
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