Menos de 30% dos funcionários brasileiros consideram suas lideranças preparadas para a gestão

Menos de 30% dos funcionários brasileiros consideram suas lideranças preparadas para a gestão

Pesquisa da ABRH mostra os desafios do RH para 2025 em temas como preparação de liderança inteligência artificial e diversidade.

Por Rafaela Zampolli – Jornal Valor Econômico

04/03/2025

Apenas 28,67% dos funcionários consideram as lideranças das suas empresas totalmente preparadas para os desafios da gestão. Esse é um dos achados de uma pesquisa conduzida pela Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH) em parceria com a Umanni a partir de entrevistas realizadas com 3.821 pessoas.

“O RH instrumentaliza as organizações. Nós desenvolvemos metodologias, técnicas e capacitamos. Mas quem, de fato, realiza as coisas dentro da empresa é a liderança. Eles são as nossas mãos e os nossos pés na organização”, avalia Eliane Aere, diretora da pesquisa, CEO da Umanni e presidente da ABRH-SP. Para ela, quando não existe uma liderança alinhada com os projetos, os esforços do RH são desaproveitados porque quem está no dia a dia dos funcionários é o gestor.

A associação ainda questionou profissionais da área de gestão de pessoas sobre quais são os maiores desafios organizacionais para 2025. Desenvolvimento de lideranças se manteve no topo das preocupações, sendo apontado por 66,72% dos respondentes. Eliane Ramos, presidente da ABRH Brasil, acredita que essa sempre foi uma dificuldade dos recursos humanos. “Quando há um grande número de pedidos de demissão, as pessoas, normalmente, não querem sair da empresa. Elas pedem demissão daquele líder, daquele ambiente tóxico”, pontua.

A presidente defende o cultivo de uma liderança mais autoconsciente, empática e centrada no humano, apta a lidar com a volatilidade do mundo contemporâneo. Capacitar um chefe deve ser um trabalho contínuo, segundo Ramos. Ela também afirma que não deve-se responsabilizar apenas a empresa pelo sucesso da gestão. “O que você está fazendo para se apropriar desse papel?”, reflete. Por outro lado, a especialista questiona se uma empresa que não prepara os líderes está apta a enfrentar as adversidades e a volatilidade do mercado.

Inteligência artificial no RH

O levantamento concluiu que a automação dos processos (60,93%) é o segundo maior desafio para o RH. Os trabalhadores da área declararam usar a IA em tarefas que envolvem folha de pagamento (71,78%), recrutamento e seleção (62,35%) e gerenciamento dos benefícios (56,57%). “A tecnologia avançou muito e barateou. Não tem por que as pessoas não a utilizarem”, diz Aere. Ela acredita que com análise e estrutura, as inteligências entram de maneira suave e podem ser benéficas. “Se não fizer a lição de casa, não adianta achar que a máquina vai resolver”, pondera.

Nova pesquisa da ABRH foi realizada presencialmente com 3.821 pessoas e mapeou o cenário do RH no Brasil — Foto: Pexels

“O futuro será moldado por aqueles que tiverem coragem para inovar, resiliência para enfrentar desafios e liderança alinhada a propósitos”, destaca Eliane Ramos.

Equidade salarial como um desafio a ser vencido

De acordo com o levantamento, 56,6% das empresas afirmam cumprir a Lei de Equiparação Salarial (Lei nº 14.611/2023). A outra parte não cumpre ou não sabe dizer a posição da companhia em relação ao tema. “Não tem porquê, na mesma função, com as mesmas características, haver diferença salarial”, defende Aere. Na sua visão, o número declarado não é satisfatório e deve-se batalhar para que chegue ao índice de 100%. “Ainda me choca o fato de termos que continuar discutindo temas como esse”, pontua.

A especialista também relata que houve uma piora de um ano para outro no que diz respeito à equiparação salarial e argumenta que, para além de criar políticas, é preciso haver fiscalização. Nesse sentido, a CEO observa que isso pode ser otimizado por meio do desenvolvimento tecnológico. “É possível cruzar dados para ver se há coerência entre o que é declarado e o que a pessoa recebe”, exemplifica. Ela ainda lembra que a Lei nº 14.611 prevê multa para quem descumpri-la.

A pesquisa da ABRH também levantou o status das ações de diversidade e inclusão (D&I) nas empresas participantes. Programas para equidade racial caíram de 24,61% (2023) para 19,01% (2024); 12,98% das companhias adotam indicadores e metas associadas à D&I, além disso, medidas para a inclusão do público 50+ estão presentes em 14,99% delas. “Nosso país está envelhecendo rapidamente e apenas 19% das empresas falam de previdência privada. Como será daqui a 20 anos?”, questiona Aere.

A executiva diz ter trabalhado em uma empresa que criou um plano de previdência privada. “No primeiro dia, eu aderi. Chegava a ser forçoso guardar uma porcentagem todo mês. Hoje, isso é libertador”, reflete. De acordo com ela, o RH pode se sensibilizar mais para questões estruturais de médio e longo prazo. “A diversidade não é só sobre cumprir cotas, mas sobre reconhecer o potencial do talento humano na sua pluralidade”, diz a presidente da ABRH Brasil.

Políticas de saúde mental

O atendimento psicológico é um benefício que está presente em 39,24% das organizações, segundo a pesquisa. “Percebemos que o apoio à saúde mental passou de uma iniciativa que era desejável para uma necessidade crítica do negócio”, reforça Ramos. Ela acrescenta que o bem-estar dos funcionários tem correlação direta com o desempenho da equipe e com os resultados financeiros. “Acho que deve haver um foco cada vez maior na experiência do colaborador”, pontua.

Já o plano de saúde é o segundo benefício mais disponibilizado pelas companhias, ficando apenas atrás de auxílios para alimentação. Ao todo, 77,43% das empresas declaram apoiar os funcionários com essa medida. Em 2025, 16,21% dos profissionais de RH consideram que reduzir os custos com saúde é uma prioridade. Dados preliminares de outra pesquisa da ABRH Brasil, desta vez em conjunto com ASAP (Aliança para a Saúde Populacional), apontam que em mais de 85% das organizações, os custos de saúde se elevaram bem acima da inflação. Para 44% destas, tal aumento chegou ao triplo do IPCA.

“O plano de saúde é um dos benefícios mais valorizados pelos empregados. Contudo, ao mesmo tempo, se tornou uma das raras despesas das empresas que superam a inflação de forma progressiva e persistente, colocando em risco a sua própria continuidade”, avalia Luiz Edmundo, diretor de desenvolvimento de pessoas na ABRH Brasil.

Flexibilidade para aumentar a satisfação e produtividade

O levantamento da ABRH descobriu ainda que 9,7% das empresas brasileiras adotaram a jornada de trabalho de quatro dias e o modelo mais escolhido pelas organizações continua sendo o 100% presencial (46,6%). De 2023 para 2024, o modelo híbrido cresceu e, atualmente, está presente em 46,2% das empresas. Ao mesmo tempo, 7,3% adotaram o trabalho remoto no ano passado. “É importante ter políticas claras para gerenciar as expectativas, tanto da organização como dos funcionários, para que possamos promover cada vez mais equilíbrio e flexibilidade”, diz Ramos. Na sua opinião, tais medidas podem aumentar a satisfação e produtividade dos trabalhadores.

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