Como lidar com fofocas no ambiente de trabalho?
O artigo abaixo traz dicas sobre como navegar no escritório após observar intrigas dentro da equipe
Marco Tulio Zanini – Jornal Valor Econômico
27/09/2023
“Trabalho com uma equipe com mais sete pessoas. Recentemente, especialmente com a volta dos encontros presenciais, tenho percebido muitas intrigas e fofocas. Tenho tentado evitar ao máximo participar disso, mas sinto que posso acabar sendo o próximo alvo. Meus colegas comentam, por exemplo, quando alguém decide trabalhar de home office, e falam muito mal do nosso chefe pelas costas. Como manter uma boa relação com as pessoas sem me envolver nesse tipo de conversa?” Analista de processos, 37 anos
A experiência do trabalho em equipe tem muitas faces e, talvez, você esteja experimentando uma das mais medíocres, que é quando as pessoas deixam de enxergar os grandes desafios para fixarem sua atenção na vida alheia e nos defeitos dos outros.
Ora, sabemos que intrigas e fofocas são parte da experiência humana em grupos, mas sabemos também que equipes motivadas e orientadas para um determinado fim podem realizar feitos maiores do que a soma das capacidades individuais. O que estaria faltando à sua equipe?
Eu tive a oportunidade de realizar pesquisas em equipes de operações especiais por alguns anos. Nesses grupos, ocasionalmente também existem distrações menos nobres, mas o ritmo e o tamanho dos desafios que as pessoas precisam enfrentar juntas apaga aquilo que é menor, menos nobre, que não leva a lugar algum, e coloca a todos atentos e orientados ao mesmo ideal.
Há uma consciência coletiva em todos esses times, e em equipes de alto desempenho nas empresas que trabalham bem a sua cultura: a consciência da interdependência. Isso faz com que todos se sintam corresponsáveis uns pelos outros, inclusive pela sua elevação como pessoa e colega. Essas equipes não toleram por muito tempo essas intrigas pelas costas. Há um compromisso claro de respeito, lealdade e confiança, que une a todos para vencerem seus grandes desafios.
Talvez, esteja faltando para o seus colegas essa consciência que poderia tirá-los das coisas menores da vida em equipe, e elevá-los a discussões qualificadas.
Intrigas e fofocas fazem parte da experiência humana em grupos, mas equipes motivadas e orientadas para um determinado fim podem realizar feitos maiores do que a soma das capacidades individuais — Foto: Pexels
Mas, buscando aqui responder a sua pergunta: o seu papel vai depender de quem você é e do que está disposto a fazer. Se é alguém que, uma vez que não falem de você, se contenta em viver nesse ambiente de fofocas e intrigas, então eu lhe aconselharia a adquirir a competência do “algodão de cristal”, buscando evitar que as intrigas levem a conflitos piores, buscando harmonizar as discussões, salvando assim a sua pessoa de ser a próxima vítima das intrigas.
Mas se você fala na posição de quem quer gastar seu tempo e sua energia vital naquilo que pode transformar vidas, aconselho a assumir esse espaço vazio que parece existir e que permite que as pessoas gastem o seu tempo laboral com aquilo que nada acrescenta nem edifica.
Assuma a liderança, converse com as pessoas individualmente e, depois, em conjunto, busque celebrar um pacto de convivência e performance. Procure despertar neles o que têm de melhor e levá-los ao seu nível de competência máxima. Você não precisa estar em uma posição de chefia para fazer isso.
Talvez falte exatamente essa consciência moral que recupere e restaure as conversas e diálogos qualificados em equipe para rumos mais nobres. Harmonizar o grupo é uma tarefa altiva, mas despertar suas virtudes e consciências sobre suas capacidades não tem a ver somente com a produtividade da empresa – está relacionado, antes disso, à nossa missão como seres humanos, o que estamos fazendo aqui, hoje, e onde devotamos a nossa energia vital.
Talvez você, que se moveu a escrever sobre essa situação, seja a saída para que aqueles que trabalham contigo adquiram e recuperem suas melhores virtudes. Boa sorte!
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