Busca por “fit” cultural no recrutamento pode prejudicar a diversidade

Busca por “fit” cultural no recrutamento pode prejudicar a diversidade

Nate Frank, CEO global da ZRG Partners, diz que, hoje, a demanda das empresas é por pessoas que representem opiniões diferentes

Por Stela Campos – Jornal Valor Econômico

19/10/2023

Adequação é uma palavra que embute uma sensação de conformidade. Quando uma empresa busca contratar alguém que se encaixa à sua cultura, na verdade, mostra que está pouco disposta a correr riscos e abraçar verdadeiramente a diversidade.

Esta é a opinião de Nate Frank, que desde 2014 é CEO global da ZRG Partners, consultoria de talentos e executive search, que emprega 650 pessoas globalmente, presente em cinco continentes e no Brasil desde 2016. A companhia possui dez divisões, fruto de empresas adquiridas ao longo dos últimos anos, que oferecem diferentes soluções de capital humano. Desde 2021, o tema transformação cultural foi incluído no portfólio com a compra da consultoria Walk the Talk.

Para obter o melhor da diversidade, Frank diz ser necessário que o contratante corra riscos e esteja aberto para isso — Foto: Divulgação

Frank percebe que os clientes, em geral, têm evoluído no tema da diversidade na hora de selecionar profissionais, mas acredita que ainda há muito o que se refletir sobre o seu real significado. “Há cinco anos, a busca era realmente por diversidade de gênero e etnia. Essa era a mentalidade nas companhias nos Estados Unidos e, em geral, em outras partes do mundo”, comenta em entrevista ao Valor. Ele diz que agora as empresas estão pedindo para que os recrutadores tragam mais candidatos que representem também a diversidade de opinião. “Querem poder ouvir outras pessoas na mesa”, diz.

Mas a aceitação de candidatos com uma mentalidade diferente não é simples, segundo o headhunter. “As companhias querem a diversidade dentro de uma determinada caixa de experiências”, conta. Ele enfatiza que para obter o melhor da diversidade, no entanto, é necessário que o contratante saiba que vai correr riscos e que deve estar aberto para isso. “É preciso estar disposto a ter seu pensamento e suas ideias questionadas”, afirma.

Um passo importante para trazer essa diversidade de pensamento para dentro da companhia, segundo ele, é olhar para fora da própria indústria na hora de contratar. Nate questiona a ideia de se encontrar sempre alguém considerado compatível e adequado à cultura organizacional. “Você precisa pensar na contribuição que a pessoa pode trazer para a sua cultura de outro jeito, como ela pode impulsionar você a pensar e operar de novas maneiras”, acredita. As empresas dispostas a evoluir de fato em relação à diversidade, para ele, devem estar mais abertas a contratar alguém que não possui todo o currículo para uma determinada posição. “Elas vão ajudar a pessoa a se desenvolver e crescer”, diz.

As companhias querem a diversidade dentro de uma determinada caixa de experiências”

Denys Monteiro, CEO da ZRG no Brasil, complementa dizendo que por aqui as companhias ainda são bastante conservadoras na hora da decisão final por um candidato. “Se você tem um que se encaixa em todos os estereótipos e todas as qualificações, mas não traz diversidade à mesa, em comparação com outro que talvez não tenha o histórico educacional adequado ou a experiência certa na indústria, ou talvez não esteja completamente formado, as companhias tendem a escolher o primeiro, a escolha mais segura”, conta Monteiro. “Acreditamos que mudar isso seja a próxima evolução”, afirma Dárcio Crespi, sócio da ZRG. “Muitos clientes ainda não se sentem confortáveis com essa abordagem”, afirma.

Nate afirma que no negócio de consultoria de cultura organizacional da ZRG aparecem muitos casos de empresas que enfrentam o desafio de alinhar o conjunto de objetivos comerciais com a cultura existente. “Muitas têm um negócio que precisa passar por uma transformação significativa, mas possuem uma cultura organizacional onde se evita correr riscos, onde não se aventura experimentar coisas novas”, conta.

Nesses casos, ele recomenda alguns questionamentos que devem ser feitos internamente: “Você tem pessoas na organização, culturalmente falando, para promover essa transformação? Você tem pensadores inovadores?”. Nate diz que existem culturas, por exemplo, em que as pessoas estão muito focadas em obter o máximo de resultado de uma linha de produtos já madura. Essas, geralmente, são pouco inovadoras. “Mas à medida que essas companhias veem seu produto amadurecendo e começam a perder receita, elas sabem que vão precisar de inovação, de pessoas dispostas a arriscar, de diversidade.”

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