Disney – Por que empresas de sucesso sofrem? Não se antecipam aos problemas!

Disney – Por que empresas de sucesso sofrem? Não se antecipam aos problemas!

Por Christopher Grimes, Ortenca Aliaj e Anna Nicolaou – Jornal Financial Times

Tradução: Mario Zamarian – Jornal Valor Econômico

09/08/2023

A aposentadoria de Bog Iger da Disney durou apenas 11 meses, mas desde seu retorno como executivo-chefe (CEO) em novembro, ele admitiu ter ficado surpreso com o número de problemas que descobriu na companhia.

O declínio do negócio tradicional de televisão foi pior do que ele pensava, levando a uma queda expressiva na publicidade – e questionamentos se os canais continuam sendo um ativo “central” da Disney. Uma série de decepções nas bilheterias, incluindo o recente “Mansão mal-assombrada”, levou analistas a dizer que os exaltados estúdios de cinema da Disney perderam sua centelha criativa.

Durante anos, o próspero negócio de TV ajudou a pagar aquisições espetaculares que marcaram os primeiros 15 anos de Iger no cargo, incluindo as fábricas de sucessos Pixar e Marvel. Posteriormente, a TV subsidiou sua cara investida no streaming. Mas agora ela se tornou um empecilho.

Com as ações em queda de 22% nos últimos 12 meses, Iger vem se mostrando incomumente disposto a lançar publicamente ideias sobre quais partes da Disney ele pode querer se livrar.

Ele chegou a falar neste ano que serviço de streaming Hulu poderia não ser essencial para a Disney, apenas para dizer mais tarde que é. Ele disse à CNBC que o modelo de negócios por trás das redes de TV tradicionais, como a ABC, está “definitivamente arruinado”, observando que elas “podem não ser essenciais para a Disney”.

Recentemente Iger contratou dois ex-executivos da Disney, Kevin Mayer e Tom Staggs, para ajudá-lo a examinar opções para os negócios de TV, incluindo a ESPN, o canal de esportes que durante anos foi o motor do crescimento da companhia. Iger estaria procurando parceiros para administrar a ESPN, que poderiam incluir ligas esportivas ou outros grupos de mídia. Também está examinando opções para o canal Indian TV, segundo três fontes.

Embora o negócio de TV seja uma grande dor de cabeça, Iger também enfrenta o desafio de reduzir as perdas enormes das operações de streaming da Disney, que, segundo a empresa, não terá seu primeiro lucro antes de 2024.

O streaming e as redes de TV deverão ser um problema para os lucros da Disney quando ela anunciar seus resultados trimestrais nesta quarta-feira (09/08), juntamente com o desempenho de bilheteria mais fraco que o esperado de filmes de verão como “Indiana Jones e a relíquia do destino”.

A expectativa do mercado é de que a Disney terá um lucro por ação de US$ 0,96, número que no mesmo período do ano passado foi de US$ 1,09, sobre uma receita de US$ 22,4 bilhões. As perdas operacionais no serviço de streaming Disney+ deverão chegar a US$ 760 milhões, ou US$ 100 milhões a mais do que no trimestre anterior, segundo estimativas do Citigroup. Sua operação de streaming deverá perder 3 milhões de assinantes em comparação ao trimestre anterior.

Os investidores também esperam uma atualização sobre a iniciativa de corte de custos de US$ 5,5 bilhões que Iger anunciou pouco depois de sua volta, que prevê cortes de 7 mil empregos.

O retorno de Iger foi festejado por investidores e funcionários, que esperavam que ele estabilizasse a Disney depois da pandemia e do mandato acidentado de seu sucessor, Bob Chapek. Mas recentemente ele foi criticado depois de receber uma extensão de dois anos em seu contrato, o que renovou as dúvidas antigas sobre sua disposição em deixar o cargo e sobre o planejamento sucessório na Disney. O mais novo contrato de Iger termina em 2026.

Houve tensões internas, inclusive com a ex-diretora financeira Christine McCarthy, que teve um papel na saída de Chapek. A Disney citou motivos médicos quando anunciou, em junho, que ela estava saindo, mas três fontes a par da situação disseram ao “Financial Times” que ela deixou a empresa depois que tensões surgiram entre ela e Iger. “Isso é bastante conhecido na companhia”, diz um ex-funcionário. “Ela tinha uma mentalidade independente e Iger achou que ela não era suficientemente leal a ele e sua agenda.” McCarthy não foi encontrada para comentar. Ela foi substituída interinamente por Kevin Lansberry, mas a Disney já começou a procurar um diretor financeiro definitivo.

Enquanto tenta cortar os custos, a Disney também examina suas opções na Índia, onde ela perdeu os direitos de transmissão por streaming das partidas de críquete da principal liga desse esporte no país, no ano passado, em um leilão recorde de US$ 6,2 bilhões. Ela manteve, no entanto, os direitos de transmissão pela TV tradicional.

“Eles certamente estão procurando opções para reduzir os passivos na Índia”, diz um executivo a par do negócio. “Suspeito que uma venda total será uma das opções, mas não é a primeira nem a única delas. Iger gostaria de transformá-la em um eixo estratégico, em vez de vendê-la barato.” A Disney não quis comentar.

Outros ex-executivos disseram que seria um erro a Disney sair completamente do negócio na Índia. “Não tem sido um bom negócio e há muitos custos irrecuperáveis. Mas vendê-lo significa que eles perderiam sua posição naquele que será o mercado em crescimento mais rápido que eles poderiam entrar, porque nunca entrarão na China”, diz um ex-executivo da Disney.

Também pairando sobre Iger está uma transação iminente com a Comcast, que controla um terço do serviço de streaming Hulu. Em 2019, as companhias acertaram que qualquer um dos lados poderia forçar uma transação a partir de janeiro de 2024, com a Comcast detendo o direito de “opção de venda” da participação para a Disney, ou a Disney exercendo o direito de “opção de compra” da participação da Comcast.

A Disney deverá comprar a participação da Comcast, que pode chegar a US$ 9 bilhões ou mais. “A Comcast vai estrangular Iger no preço, no momento em que ele menos pode pagar por outra aquisição”, diz o acionista. “Ele vai ficar ainda mais endividado.”

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