Não subestime o poder dos elogios
Uma reflexão sobre as oportunidades que perdemos ao deixar de expressar apreciação pelos outros
Por Tatiana Iwai – Jornal Valor Econômico
22/08/2023
Em nosso dia a dia no trabalho, muitas vezes subestimamos o poder transformador de pequenos atos de apreciação. Uma apresentação excelente feita por um colega. Um projeto complexo concluído com excelência. Uma habilidade singular que você enxerga em alguém. Quantas vezes nos deparamos com oportunidades de elogiar uma pessoa e deixamos passar? Para quem expressa apreciação, um gesto pequeno e simples. Para quem recebe, um ato que gera um impacto positivo surpreendentemente alto.
Por que perdemos tantas oportunidades? As razões podem ser variadas. Desde não notar a oportunidade de fazê-lo até uma certa inveja e competividade despertadas por notar qualidades positivas nos outros. Muitas vezes, porém, o motivo é mais simples: subestimamos seus efeitos positivos. Isso é curioso, porque adoramos ser elogiados, mas somos mais econômicos em fazê-lo para outras pessoas, especialmente pares de trabalho.
Há algumas boas razões, no entanto, para nos esforçarmos mais em reconhecer os outros. Alguns efeitos positivos são mais óbvios. Sentir-se apreciado pelos outros atende a uma necessidade humana fundamental de conexão e estima. Expressar apreciação por alguém mostra que enxergamos o outro, nos importamos e reconhecemos seu valor. E isso é o alicerce de relacionamentos de alta qualidade.
Há ainda outros efeitos menos intuitivos, como mostra um estudo recém-publicado na “Academy of Management Perspectives”. A pesquisa revela que, ao receber feedbacks positivos de terceiros sobre situações em que desempenharam um papel significativo, a percepção positiva que as pessoas têm de si mesmas se expande. Ou seja, receber demonstrações de apreciação ajuda as pessoas a ampliarem sua autoimagem, permitindo descobrir habilidades e potencialidades previamente ocultas.
Como nossos talentos nos permitem agir e alcançar resultados com mais naturalidade em algumas áreas, acabamos por vezes não reconhecendo ou subestimando algumas das nossas forças. Elogios e reconhecimentos podem ajudar a iluminar estes pontos cegos. Na pesquisa, os participantes relataram como os feedbacks positivos recebidos proporcionaram a eles novas perspectivas sobre ações que antes consideravam comuns ou triviais.
Esses resultados nos levam a refletir também sobre como frequentemente nos inclinamos a influenciar o comportamento dos outros por meio da crítica. A ênfase que colocamos em oferecer feedback negativos muitas vezes nos leva a inundar as pessoas com críticas e sobrecarregá-las. Por vezes, subestimamos a capacidade igualmente significativa que possuímos de influenciar comportamentos por meio da apreciação, ao enfatizarmos também suas realizações e habilidades.
O potencial transformador da apreciação depende, porém, da forma como ela é expressa. Ela demanda, acima de tudo, especificidade. Algum tempo atrás, em uma das minhas aulas, alguns alunos compartilharam comigo impressões altamente positivas sobre um colega professor. Decidi compartilhar com ele o que os alunos haviam mencionado. Para além da impressão geral elogiosa sobre ele, destaquei os comportamentos que, na perspectiva dos alunos, geravam esta imagem tão positiva. Como era até esperado, o professor ficou genuinamente tocado pelo reconhecimento em si, mas o mais interessante é que ele admitiu que não imaginava que algumas ações dele, que ele considerava até corriqueiras e banais, fizessem tanta diferença para os alunos.
Segundo a colunista, elogios e reconhecimentos que indicam eventos concretos são capazes de colaborar com o desenvolvimento de nossos pares — Foto: Pexels
Ou seja, a essência da expressão de apreciação é mais que parabenizar ou elogiar de forma genérica com um “parabéns” ou “mandou bem”. O reconhecimento é mais potente na medida em que somos capazes de especificar os comportamentos apreciados. Ao reconhecer alguma qualidade ou habilidade da pessoa indicando eventos concretos de quando eles se manifestaram e o impacto causado, somos capazes de exemplificar, dentro do próprio repertório da pessoa, quando ela está em sua melhor versão. Ao fazermos isso, não apenas aumentamos a chance que estes comportamentos apreciados se repitam no futuro, como ajudamos o outro a se desenvolver, ampliando o que a pessoa considera ser sua combinação única de forças e talentos.
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