Por que a média gerência é considerada a “vilã” nas equipes?

Por que a média gerência é considerada a “vilã” nas equipes?

Veja ações que podem mudar essa percepção de acordo com especialistas

Por Jacilio Saraiva, Jornal Valor Econômico

03/02/2023

A média gerência ou os gestores que atuam no “meio de campo” – entre os escalões mais altos e a força de trabalho – costumam ser vistos como os “carrascos” das organizações. Na maior parte do tempo, são pressionados pela liderança para executar metas de negócios urgentes, enquanto precisam atender as expectativas e necessidades dos funcionários. Fora isso, têm a missão de dar as “más notícias” às equipes, como o cancelamento de folgas e as recusas de aumentos salariais.

Os gerentes são os responsáveis por fazer acontecer os imperativos estratégicos da organização, explicaram Jim Link, diretor da Sociedade de Gestores de Recursos Humanos (SHRM, na sigla em inglês), e Christopher Kayes, professor de gestão da Escola de Negócios da Universidade George Washington, ambas nos Estados Unidos, em entrevista ao portal de notícias da BBC.

Segundo eles, os líderes intermediários estão no cerne da organização, mas em um ponto natural de tensão entre executivos e funcionários. O problema é que nem todos foram preparados para desempenhar tarefas tão difíceis– como equilibrar personalidades diferentes e as cargas de trabalho dos times com os objetivos corporativos e chefes quase sempre insatisfeitos.

Em muitos casos, diz Link, são apenas funcionários de alto desempenho que acabaram em cadeiras de supervisão como mais um passo em suas carreiras. “Isso sem, necessariamente, levarem as habilidades adequadas para a empreitada, que agora exige ainda saber coordenar e motivar os empregados a distância.”

Empatia pode ajudar a tornar a rotina profissional de todos um pouco mais fácil — Foto: Freepik

Uma das explicações, de acordo com ele, é que esses profissionais, muitas vezes, recebem pouco treinamento e apoio organizacional para a promoção. Dessa forma, acabam sendo vistos como simples enviados das demandas das diretorias, ao invés de “guias” dos empregados que comandam. A prova disso aparece em uma pesquisa da SHRM feita com 457 profissionais nos Estados Unidos.

O estudo revela que 84% acham que gerentes mal treinados criam um ambiente de estresse desnecessário nos escritórios. Os trabalhadores citaram a comunicação (41%), o desenvolvimento de pessoas (38%) e a gestão do desempenho das equipes (35%) como as principais áreas em que esses líderes precisam melhorar.

Na opinião de Kayes, é possível mudar a visão pouco amistosa que os profissionais têm dos gerentes e ainda reforçar a capacidade de comando dos executivos com mais treinamento e empatia. “A menos que os cargos gerenciais sejam preenchidos por talentos com fortes habilidades pessoais ou que surjam mais investimentos em capacitação, a narrativa que enquadra os gerentes de nível médio como vilões vai continuar”, avisa.

O pesquisador também recomenda uma dose de confiança e mais boa vontade das equipes com os gerentes. Kayes afirma que a empatia pode ajudar a tornar a rotina profissional de todos um pouco mais fácil. “É importante saber que, apesar da gerência ser obrigada a fazer as coisas andarem, na maioria das vezes não tem autoridade ou recursos para resolver problemas de longo prazo.”

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