Qual o segredo da felicidade?
Não é segredo que a maioria dos brasileiros se sente infeliz no ambiente de trabalho, o que se deve, em parte, à insatisfação com aquilo que realizam
Wellington Vitorino, para o Jornal Valor Econômico
21/06/2023
O povo brasileiro é feliz? A julgar pelo último Relatório Mundial da Felicidade, divulgado pela ONU, não muito. O Brasil figura em 49º lugar em um ranking com 103 países, o que representa uma queda de 11 posições em relação ao relatório anterior, publicado em 2019.
Felicidade é um conceito difícil de definir. Logo, é igualmente difícil apontar o que explica a felicidade (ou a falta dela) em uma população. A ONU observa critérios como renda, acesso à saúde, liberdade política, todos fundamentais, é verdade, para que haja sensação de bem-estar. Mas creio ser inegável que a felicidade é fruto também de um senso de propósito, isto é, da ideia de que a vida que levamos é significativa.
É o que afirma o escritor e palestrante Arthur Brooks, professor na Universidade Harvard. Segundo ele, a felicidade é composta por três elementos: prazer (o quanto aproveitamos a vida nos momentos de lazer, de ócio, relaxamento e contemplação), satisfação (o que sentimos quando somos recompensados de forma justa por um trabalho bem feito) e, enfim, propósito. Dito de outra forma, diversão e sucesso profissional não são o bastante para que tenhamos uma vida plena.
Isso complica um pouco as coisas quando olhamos para o mercado de trabalho. Se a ideia de propósito é assim tão importante, não basta ao país gerar emprego e renda, qualificar melhor seus profissionais, aumentar a produtividade geral e crescer economicamente. É preciso garantir também que as pessoas tenham a chance de perseguir uma verdadeira vocação.
Não é segredo que a maioria dos brasileiros se sente infeliz no ambiente de trabalho, o que se deve, em parte, à insatisfação com aquilo que realizam. Isso impacta negativamente suas relações sociais e familiares, sua saúde física e mental no longo prazo e, é claro, sua própria produtividade. Longe de ser “perfumaria”, preocupar-se com o nível de felicidade geral e o senso de propósito de nossos profissionais é, também, cuidar dos interesses materiais, concretos, de um país emergente como o Brasil.
Guardadas as proporções, esse é um problema que afeta todos os estratos sociais. Um estudo clássico de Thomas J. Saporito, publicado em 2012 na Harvard Business Review, já mostrava que metade dos CEOs nos Estados Unidos sentiam-se solitários e isolados socialmente, sendo que mais de 60% deles afirmavam que esse estado afetava seu desempenho profissional. Conforto material é imprescindível, sobretudo em um país desigual como o Brasil, mas somos animais sociais, psicologicamente complexos. Sem um propósito de vida e sem conexões interpessoais relevantes, não há felicidade duradoura.
Isso é corroborado pelo mais longo e abrangente estudo feito sobre o tema, o “Grant Study”. Em 1938, pesquisadores da Universidade Harvard começaram a acompanhar a vida de 700 jovens, de diferentes origens sociais, monitorando seus períodos mais ou menos alegres, seus traumas e realizações. O estudo dura até hoje, com avaliações periódicas dos últimos participantes ainda vivos.
A conclusão é fascinante: o principal indicador para prever uma vida feliz e saudável é a qualidade de nossos relacionamentos, mesmo quando consideramos pessoas com rendas, trajetórias profissionais, preferências e estilos de vida radicalmente diferentes.
Numa época de aparente queda nos níveis de felicidade dos brasileiros, com a explosão de mazelas como ansiedade, depressão e “burnout”, as conclusões do “Grant Study” servem de lembrete de que não há felicidade possível sem conexões humanas verdadeiras e sem que encontremos um sentido para nossa vida.
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