Como a liderança pode se comunicar melhor

CEOs e especialistas sugerem novas maneiras de incrementar o diálogo com as equipes

Por Jacilio Saraiva – Jornal Valor Econômico

06/10/2024

Saber se comunicar não é apenas uma habilidade exigida das lideranças, mas o eixo de uma gestão eficaz. Quem garante é Gleb Tsipursky, CEO da consultoria sobre o futuro do trabalho Disaster Avoidance Experts, em artigo que acaba de ser publicado na “Harvard Business Review”, publicação sobre liderança da universidade americana.

Autor de livros como “The blindspots between us: how to overcome unconscious cognitive bias and build better relationships” (“Os pontos cegos entre nós: como superar o viés cognitivo inconsciente e construir melhores relacionamentos”, Ed. New Harbinger), Tsipursky defende que quando os gestores não são claros na comunicação, o foco das equipes cai e a qualidade de produção fica diluída.

“É fundamental que as chefias percebam que uma comunicação clara e consistente não é uma opção – é imperativa”, diz. “Uma comunicação ruim impede o progresso individual e coletivo.”

Prova disso apareceu em uma pesquisa publicada pela mesma publicação, durante a pandemia, que relacionou a capacidade de comunicação dos líderes com os resultados financeiros das corporações. De acordo com o estudo, companhias que investem em ações de comunicação assertiva lucram até 47% mais do que empresas que não se preocupam com o tema.

Na avaliação de Jacqueline Sobral, coordenadora do curso Comunicação para Líderes – Persuasão e Influência, da Fundação Getulio Vargas (FGV), para que o contato com os liderados seja produtivo é preciso existir uma intenção de se comunicar.

Lideranças devem aproveitar ao máximo as oportunidades de comunicação com os times, afirma especialista — Foto: Pexels

“Se o líder se preocupa apenas em falar ou mandar mensagens, não está agindo como comunicador”, diz a especialista ao Valor. “Comunicação pressupõe diálogo e conexão. É preciso que a chefia esteja disposta a escutar e criar um ambiente em que os funcionários se sintam à vontade para expressar dúvidas e desejos.”

É crítico que o líder saiba que, hoje, com o excesso de informação que recebemos e com todos “correndo contra o tempo”, é necessário repetir mais de uma vez aquilo que é essencial, usar canais de comunicação diferentes e checar como o conteúdo transmitido foi interpretado pelo time, aconselha. Permitir um fácil acesso às lideranças também é uma forma de evitar ruídos de compreensão.

“Disponibilize na agenda um período específico na semana, como uma hora na manhã de cada segunda-feira, e avise à equipe que, quem tiver necessidade de conversar, a chefia estará disponível”, ensina. “Basta bater na porta.”

Troca de Ideias

Camila Miglhorini, fundadora e CEO da Mr. Fit, rede de franquias de alimentação saudável com 886 unidades no Brasil, Portugal e Paraguai, afirma que um dos segredos da comunicação diária é ser objetivo nas mensagens enviadas, listando informações de forma concisa.

“Realizo reuniões frequentes para discutir metas, alinhar expectativas e, principalmente, ouvir os feedbacks do time”, diz a executiva que lidera diretamente uma equipe de 25 profissionais. “Busco criar um ambiente seguro para a troca de ideias, em que todos se sintam à vontade para falar.”

Para isso, ela costuma adotar hábitos ligados à escuta ativa. “Dedico tempo para ouvir o que a equipe tem a dizer, faço perguntas a fim de garantir que entendi as sugestões e utilizo recursos visuais, quando necessário, para sinalizar as informações de forma ainda mais clara”, ensina.

Miglhorini, que fundou a Mr. Fit em 2011, acredita na criação de “espaços de diálogo” na empresa. “Gerar momentos descontraídos de interação com a equipe, como um ‘café com o líder’, incentiva a comunicação aberta”, sugere. Quando as pessoas se sentem ouvidas e vêem seus feedbacks considerados, tornam-se mais engajadas, destaca.

A transparência nas atitudes é outra forma de solidificar contatos, continua. “Compartilhe informações relevantes sobre a empresa e as decisões que estão sendo tomadas”, orienta. “Isso ajuda a construir confiança e mostra que a contribuição de todos é valorizada.”

Força-tarefa

Christian Pedrosa, fundador e CEO da DigAí, de soluções de inteligência artificial para processos seletivos, diz que o diálogo é indispensável para a construção coletiva de projetos.

“Procuro deixar claro que não emito ordens”, afirma o gestor, que acumula passagens pelo Nubank e Deloitte. “Ao invés disso, formulo hipóteses, com uma explicação fundamentada, sobre o que acredito ser a melhor ação a ser tomada pela equipe.”

Para ele, é essencial conduzir as orientações com expressões como “posso estar equivocado” ou “por favor, me avise se isso faz sentido para você”. “Assim, todos são encorajados a expressar discordâncias e contribuir com o assunto”, explica Pedrosa, que lidera 14 funcionários no Brasil e nos Estados Unidos. “A criação de estratégias é um esforço coletivo, não uma exclusividade do CEO.”

Outra receita para o sucesso de uma boa conversa é apostar na empatia, relata. “Procuro organizar as ideias antes de me expressar, de forma escrita ou verbal, e garantir que cheguem ao interlocutor sem ambigüidades”, diz. “E tento me colocar no lugar do outro, para adaptar o tom, a forma e o conteúdo da mensagem, para que tudo seja recebido de maneira construtiva.”

O Poder do Silêncio

Guillaume da Mota, diretor de RH do Grupo L’Oréal no Brasil, aconselha que as lideranças devem aproveitar ao máximo as oportunidades de comunicação com os times.

“É importante ter dois níveis de comunicação: um a um, nos encontros com apenas uma pessoa, ou em grupos pequenos”, explica. “Esses momentos mais íntimos podem contribuir para uma conexão maior com os liderados, proporcionando espaço para feedbacks e instruções mais assertivas.”

Mota também defende a “força” do silêncio nas interações. “Nunca subestime a importância do silêncio ativo”, assinala. “Ele confere mais impacto ao que será dito, permitindo que quem está ouvindo tenha tempo para processar a informação.”

Danrley Morais, CTO e cofundador do Instituto de Formação em Tecnologia e Liderança (IFTL), de desenvolvimento de líderes em estratégia, tecnologia e inteligência artificial, chama a atenção para a necessidade de reuniões periódicas de planejamento.

“Sejam alinhamentos diários, semanais ou quinzenais, o importante é ter uma rotina de encontros com a equipe”, diz. “O propósito é falar sobre as atividades que estão sendo feitas e abordar possíveis bloqueios que afetam o andamento das tarefas.” Quem não estiver presente, pode ser atualizado pelo time por meio da ferramenta de comunicação que a empresa utiliza, conclui.

10 dicas para aperfeiçoar a comunicação na liderança

Fonte: Camila Miglhorini (Mr. Fit), Christian Pedrosa (DigAí), Danrley Morais (IFTL), Guillaume da Mota (Grupo L’Oréal no Brasil) e Jacqueline Sobral (FGV)/2024

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