Ficar por fora de novas gírias é um problema no trabalho?

Ficar por fora de novas gírias é um problema no trabalho?

Uma reflexão sobre a problemática de os chefes não acompanharem as novas expressões da internet

Por Emma Jacobs – Financial Times

Tradução por: Sabino Ahumada – Jornal Valor Econômico

05/02/2024

Não sei determinar o momento preciso em que aconteceu, mas minha transformação de “ótima” mãe para a mãe “motivo de vergonha” foi consolidada em um dia desses, quando casualmente joguei um “rizz” no meio de uma conversa [em inglês] em casa. Foi um experimento para saber se meu filho tinha familiaridade com gírias de internet. “Não fique falando essas coisas”, ele disse. “Você fica péssima.”

Em termos de ego, foi um fracasso, mas enquanto teste a respeito da diferença geracional no uso da linguagem, foi um sucesso. Eu descobri “rizz” da forma mais antiquada possível: li em um jornal que a Oxford University Press a escolheu como a palavra de 2023. Derivada da palavra “carisma” em inglês, “rizz” é definida como “estilo, charme ou atratividade; a habilidade de atrair um parceiro romântico ou sexual”.

Posso até ser alvo de algumas brincadeiras em casa por estar desatualizada em relação a novas palavras, mas será que eu deveria me preparar para isso no trabalho? Ou será que caberia aos funcionários mais novos se ajustarem às normas linguísticas usadas por seus colegas mais, digamos, “experientes”?

A dúvida flerta com uma questão maior, a das divisões geracionais que se desenrolam em ambientes de trabalho ao redor do mundo. Laura Empson, professora de administração na Bayes Business School, contou-me recentemente que altos executivos de firmas de auditoria disseram estar perplexos com as prioridades dos funcionários mais jovens. Um sócio-gerente de uma das chamadas “Big Four” do setor ficou desconcertado quando uma associada júnior lhe disse que nunca havia ficado tão orgulhosa de trabalhar para a empresa como quando foi anunciado que eliminariam os canudos plásticos no refeitório dos funcionários. Quando ele tinha a idade dela, recordou que ficava mais orgulhoso da empresa quando se conquistava um novo serviço importante de auditoria.

Como é frequente em muitos desses casos, não se trata necessariamente de uma geração cedendo à outra, mas de chegar a um entendimento tácito. “Se a linguagem obscurece o [entendimento do] significado, isso parece ser um grande problema”, diz Stephen Carradini, professor assistente na Arizona State University que estuda os efeitos das tecnologias emergentes na atividade profissional. “Se as pessoas não estão familiarizadas com o conceito, há o perigo de erros na comunicação”. Isso funciona nas duas direções. Jargões como “o céu é o limite” ou “empurrar com a barriga” sempre foram um pouco bobos e podem não dizer muita coisa para as gerações mais jovens.

Um diretor da geração X que, por exemplo, trabalhe em marketing e atenda a consumidores da geração Z, se sentirá mais relaxado ao ouvir gírias no local de trabalho do que o sócio-gerente de uma banca de advocacia mais tradicional, escreve colunista — Foto: Pexels

Nos últimos anos, a moda por autenticidade no local de trabalho indica que as pessoas devem ser elas mesmas no trabalho. Isso sempre foi uma mentira. Ninguém quer ver sua verdadeira personalidade no escritório. Se esse fosse o caso, eu não me daria ao trabalho de limpar a pasta de dente da minha camisa. A autenticidade pode incluir uma versão profissional de si mesmo. Na realidade, temos vários disfarces, ajustando o tom ou aparência de acordo com a situação. O mesmo vale para a linguagem. Um grupo de colegas na faixa dos 20 anos no WhatsApp é muito diferente do que quando está em uma apresentação para a diretoria.

Muito depende do contexto. Um diretor da geração X que, por exemplo, trabalhe em marketing e atenda a consumidores da geração Z, se sentirá mais relaxado ao ouvir gírias no local de trabalho do que o sócio-gerente de uma banca de advocacia mais tradicional.

Isso não significa que eles deveriam tentar jogar um “rizz” na conversa. Como apontado por meu filho, induz a sentimentos de vergonha alheia. Em parte, por seu uso parecer forçado, mas também porque é difícil acompanhar a velocidade com que a linguagem muda se você não estiver imerso nela. Tony Thorne, diretor do Arquivo de Nova Linguagem e Gíria, no King’s College London, diz que a geração Z é “altamente influenciada por tendências virais e memes, [ela] não é estritamente verbal […] sempre está de olho em metáforas visuais e alusões também”. Além disso, o humor é “surpreendentemente autorreferencial e alusivo, [pressupondo] conhecimento de influenciadores, piadas internas, celebridades e modas anteriores”.

Resistir é inútil. A tecnologia torna costumes peculiares e o humor mais importante. A gíria, diz Erica Dhawan, autora de “Linguagem Corporal Digital”, “pode criar intimidade com os colegas quando a linguagem corporal não é mais a principal forma de comunicação”.

Normas no local de trabalho evoluem. Há apenas cinco anos, líderes seniores reclamavam de fones de ouvido no escritório, observa Dhawan. “Agora, eles são normais”. O mesmo acontece com a linguagem. Gírias se tornam de uso comum rapidamente. Entre as palavras escolhidas pela Oxford University Press em anos anteriores estavam “vax” [derivada de vacina, em inglês], “tóxico” e “emergência climática”. Todas, agora, parecem bastante convencionais. Quem assina seus e-mails com o formal “Atenciosamente”? Mais comum é: “Obrigado” ou “Abraços”. Eu ainda reviro os olhos para cima quando vejo despedidas abreviadas, mas me dê mais um ano. Abs!

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