Quando o CEO deve pedir aumento de salário?
Especialistas dão orientações sobre “timing”, fundamentos da negociação e o que fazer se receber um não
Por Jacilio Saraiva – Jornal Valor Econômico
04/05/2024
Como todo executivo, o CEO pode pleitear um aumento salarial. Em organizações com estruturas de governança definidas, o pedido é feito ao conselho de administração e comitês de remuneração. Em negócios menores ou de controle familiar, a solicitação segue para os proprietários, acionistas ou principais investidores. O momento certo de fazer a proposta, de acordo com os resultados do gestor e da saúde financeira da companhia, pode definir o sucesso da requisição.
De acordo com especialistas em recursos humanos, os aumentos de salário fixo mensal para altos executivos podem oscilar de 5% a 20%, de acordo com o histórico de entregas do dirigente. Já a remuneração no Brasil apresenta faixas bem variadas – pode ir de R$ 300 mil a mais de R$ 1 milhão ao ano, excluindo bônus e participações. Grandes conglomerados listados na bolsa chegam a pagar de R$ 29 milhões a R$ 59 milhões, anualmente. Todos os valores dependem do currículo do CEO, porte, setor e desempenho da companhia.
Na avaliação de João Márcio Souza, CEO da Talenses Executive e fundador do Talenses Group, da área de recrutamento, há cenários que precisam ser considerados na hora de negociar um incremento no contracheque.
“O principal é em relação ao momento do negócio ‘versus’ os resultados que estão sendo atingidos”, explica. “Fases após períodos de crescimento, de aumento da lucratividade e durante a implementação bem-sucedida de estratégias críticas tendem a apresentar contextos mais positivos para esse movimento.”
Sobre a época do ano para requisitar o extra, Souza acredita que o intervalo mais adequado abarca as semanas de revisão anual de desempenho ou no final do ano fiscal, coincidindo com o planejamento do orçamento do próximo exercício. “Isso alinha o pedido de aumento à avaliação de performance e preparativos financeiros futuros.”
O momento certo de fazer a proposta, de acordo com os resultados do gestor e da saúde financeira da companhia, pode definir o sucesso da requisição — Foto: Unsplash
Para negociar com mais “tranquilidade”, o acréscimo recomendado pode começar em 5%, dependendo de fatores como o desempenho da empresa e do CEO, referências de mercado e condições macroeconômicas.
“As negociações devem ser fundamentadas em dados de produtividade e comparações setoriais”, diz. “A alta liderança recebe um pacote que vai além dos ganhos fixos e há casos em que o aumento não é realizado no salário base, mas na remuneração variável [como bônus e benefícios].”
Antes do pedido
Na avaliação de Paulo Saliby, sócio e fundador da consultoria SG Comp Partners, especializada em programas de remuneração, é recomendado que o CEO se planeje para conquistar o “upgrade”. “Nessa hora, ajuda ter dados de salários do mercado e o respaldo técnico da área de recursos humanos da empresa”, ensina.
Mas só incrementar os ganhos líquidos não é a única alternativa para os executivos, diz o consultor. O enfoque na remuneração variável, sobretudo em incentivos de longo prazo, com ciclos a partir de três anos, é bem aceito pelos conselhos de administração e sócios, diz. “[Essa opção] mostra que o CEO aposta na performance da companhia, está disposto a correr riscos e a formar patrimônio com os acionistas.”
A hora da resposta
Wilma Dal Col, diretora de gestão estratégica de pessoas no ManpowerGroup Brasil, de recrutamento de executivos, afirma que lidar com uma negativa de complemento salarial pode ser desafiador – mas é importante tratar a situação de forma estratégica.
“É essencial manter a calma, evitar reações emocionais e tentar compreender as razões por trás do ‘não’”, diz. “Após receber a resposta, pedir um feedback construtivo pode ser valioso. Depois, é crucial continuar demonstrando competência e confiança.”
Dal Col pontua que compreender os motivos da recusa pode fornecer ‘insights’ sobre as expectativas da corporação e os caminhos para aperfeiçoar a gestão. Caso o executivo descubra que o “banho de água fria” aconteceu por motivos ligados ao desenvolvimento profissional ou à necessidade de melhorias no comando, o CEO deve aproveitar a oportunidade para investir em capacitação.
“Continuar um diálogo aberto com os tomadores de decisão da empresa auxilia a construir relacionamentos e esclarece novas expectativas”, diz.
Ivan Cruz, cofundador da Mereo, HRTech (startup de RH) presente em mais de 40 países, destaca que deve-se “reavaliar o terreno” quando a solicitação de um maior honorário não for bem recebida.
“Se [a negativa] foi por não conseguir entregar o acordado no início do contrato de trabalho, é preciso fazer uma autoavaliação”, afirma. “Use perguntas como ‘tive todas as ferramentas possíveis e um bom time?’ ou ‘mesmo com um resultado bom, a situação financeira da empresa está difícil?’”.
Sem o acréscimo financeiro desejado, o CEO precisa refletir se poderá esperar por mais uma sequência de bons resultados para solicitar o soldo novamente. Mas, se o gestor cumpriu o combinado, entregou o seu melhor e continua recebendo um “isso fica para depois”, é preciso pensar na possibilidade de procurar novos ares, explica Cruz. “Ou seja, buscar empresas em que o profissional possa ser reconhecido pelas entregas que faz”, afirma.
Zona de negociação
5 dicas para planejar um pedido de aumento
1. Analise o seu desempenho |
Liste conquistas, metas atingidas e contribuições estratégicas para o crescimento da empresa. |
2. Olhe em volta |
Reúna informações do mercado sobre faixas de remuneração de CEOs em companhias similares em porte, setor e localização geográfica |
3. Documente a jornada |
Prepare uma proposta que destaca o apoio concedido à organização, com índices de desempenho e resultados que beneficiaram o negócio. |
4. Aperfeiçoe o pedido |
Antes da negociação, treine uma apresentação e revise questões que possam surgir na reunião. É importante ser claro e confiante. |
5. Agende o melhor dia |
Escolha o momento certo, em relação à saúde financeira da empresa, para marcar um encontro com o conselho, comitês de remuneração ou acionistas. |
Fonte: Ivan Cruz (Mereo), João Márcio Souza (Talenses Group), Paulo Saliby (SG Comp Partners), Wilma Dal Col (ManpowerGroup Brasil)/2024
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